António Jorge Gonçalves

Aos dois anos, entrou para o time dos quatro-olhos e teve que usar uma venda (como os piratas) no olho direito, para exercitar o esquerdo preguiçoso. Isso não o impediu de encher o verso de folhas datilografadas com tiras de quadrinhos desenhadas à caneta (a primeira dessas histórias, criada aos quatro anos, contava o nascimento de uma zebra).

Aos seis, com os dois irmãos, criou a revista de quadrinhos Space Story, exemplar único pintado à mão. Depois vieram os fanzines impressos com o pai, nos fins de semana, na caprichosa máquina de offset do escritório. Sonhou ser cartunista da revista Tintim. Foi um aluno muito aplicado no liceu e cantou em missas. Um dia chegou às belas-artes e descobriu a liberdade. Apaixonou-se perdidamente e fez figuras alegres e tristes. Começou a viajar e, assim, realizou o sonho de infância.

Um dia tirou os óculos, deixou a barba crescer e partiu com o computador e a guitarra às costas, para se perder no labirinto das grandes cidades. Criou o projeto “Subway Life”, desenhando pessoas sentadas nas composições do metrô de cidades como Londres, Lisboa, Berlim, Estocolmo, São Paulo, Nova York, Atenas, Tóquio ou Cairo. Voltou e assistiu à chegada de uma menina que agora lhe faz companhia no ateliê, vestida de princesa, desenhando figuras com caras espantadas.

// CONHEÇA